Os efeitos cardíacos dos andrógenos podem envolver mecanismos indiretos envolvendo disfunção endotelial (aterosclerose), aumento da eritropoiese, hematócrito, hiperviscosidade e hipertensão. No entanto, os andrógenos podem ter efeitos diretos no músculo cardíaco e sua função, uma vez que o receptor androgênico é expresso no músculo cardíaco.
Adicionalmente, a nandrolona pode ser considerada um protótipo de androgênio puro, uma vez que ela é minimamente convertida em estradiol e seu metabólito 5α-reduzido tem atividade androgênica insignificante. Assim é possível observar efeitos independentes da aromatização ou 5α-redução.
Com o intuito de observar os efeitos dos andrógenos no músculo cardíaco, um estudo randomizado e controlado por placebo separou três grupos de 10 homens hígidos, com idades entre 18 e 45 anos. Um grupo recebeu 200 mg/semana de blend de testosterona (semelhante ao Durateston), outro 200 mg/semana de decanoato de nandrolona (Deca-durabolin) e o último grupo recebeu apenas veículo oleoso, todos por 4 semanas. Foram realizados exames laboratoriais na semana 0, 2 e 4 e ECG, ecocardiograma transtorácico e na semana 0 e 4. O que perceberam?
Ambos os andrógenos tiveram efeitos semelhantes nos parâmetros hematológicos e na função cardiovascular e hemodinâmica geral. Resultado esperado já que outros estudos já demonstraram que o músculo cardíaco possui baixos níveis de aromatase e 5α-redutase. Além disso, a magnitude do resultado na contagem de hemoglobina e hematócrito foi semelhante para ambos andrógenos, mas nenhuma alteração foi encontrada na pressão arterial e no lipidograma quando comparado com placebo. O quanto essas alterações hematológicas irão influenciar no trabalho cardíaco no longo prazo ainda é incerto e necessita de mais estudos, entretanto é prudente monitorar esses indivíduos.
No grupo da testosterona foi encontrado leve aumento no diâmetro de VD e VE se comparado com o grupo da nandrolona, entretanto dentro dos limites normais para homens jovens e sem redução da fração de ejeção do VE (FEVE). No entanto, é incerto se essas alterações se traduziram em redução da FEVE no longo prazo.
Apesar do número pequeno, os autores discutem que o estudo reforça outros achados na literatura de que não há efeitos colaterais agudos significativos na função cardíaca com o uso de andrógenos no curto prazo, tanto testosterona, quanto nandrolona. Em contrapartida, o curto período do estudo não descarta alterações estruturais que demandam mais tempo para ocorrer. Reforçando ainda mais a necessidade de estudos em longo prazo.
Referência:
doi: 10.1111/j.1365-2265.2006.02715.x.