“DPOC é uma condição pulmonar heterogênea caracterizada por sintomas respiratórios crônicos (dispnéia, tosse, expectoração) devido a anormalidades persistentes das vias aéreas (bronquite, bronquiolite), alvéolos (enfisema) e/ou vasos pulmonares, confirmado espirometricamente por determinada limitação de fluxo e/ou evidência objetiva de disfunção pulmonar estrutural ou fisiológica.”
Assim Celli e colaboradores definem DPOC em sua proposta de revisão da definição.
Apesar de décadas de pesquisa na patogênese e tratamento da DPOC, a comunidade médica vem falhando em diminuir a mortalidade e morbidade da doença como foi alcançado em outras doenças crônicas.
Os autores acreditam que um fator importante para essa falha é a definição atual da doença que falha em identificá-la precocemente antes que a limitação de fluxo se torne evidente.
A definição de DPOC como entidade única, vem limitando as pesquisas à apenas uma causa, o cigarro, e a apenas um grupo populacional, idosos com história significativa de tabagismo.
O entendimento da complexidade da doença e de seus outros fatores causativos, que em determinadas regiões e populações e até mais significativo do que o cigarro, tende a trazer avanços e possibilitar um diagnóstico mais precoce com intervenções mais assertivo os na evolução da doença, tentando definir de maneira clara o conceito de pré-DPOC para pacientes com alterações de função pulmonar, mesmo que com fluxo normal.
Assim foi proposto não só a definição mais ampla de DPOC, como também sua divisão clínica em diferentes fatores causais, que podem ter evoluções e perspectivas diversas da visão de hoje com apenas o tabagismo como causador. (Classificações abaixo).
DPOC-G: De cunho genético, relacionada com gene SERPINA1 defeituoso, que é implicado em bronquiectasia, asma e cirrose. É uma condição subdiagnosticada e que pode ser tratada com terapia específica.
DPOC-D: Relacionada ao desenvolvimento anormal dos pulmões durante a adolescência, por exposição a tabagismo passivo, poluição, infecções repetidas ou desnutrição. Há evidência que essas alterações podem predizer o aparecimento de DPOC mais a frente na vida.
DPOC-C: Secundária ao tabagismo, pesquisas sugerem que haja influência de uma resposta inflamatória anormal aos produtos inalados do cigarro, podendo haver mecanismos preveníveis ainda não identificados.
DPOC-P: Relacionada à poluição e fumaça. Estudos sugerem que representa uma entidade bastante diferente de DPOC, sendo a mais prevalente em algumas regiões do mundo, especialmente entre mulheres.
DPOC-I: Secundária a infecções e processos de reparo anormais. Pode representar situação epidemiológica relevante, especialmente ao considerarmos fatores como HIV e tuberculose.
DPOC-A: Relacionada à asma. O quanto a asma contribui para a gênese do DPOC tem sido muito discutido, mas é reconhecido que a asma não tratada, asma é reconhecido que pacientes com asma severa não tratada leva a limitações crônicas de fluxo mesmo sem outras causas ambientais.
DPOC-U: Para causas desconhecidas.
DPOC-M: Com múltiplas causas.
A proposta citada pelo GOLD 2023 tem por intenção ampliar o estudo sobre as diversas formas de DPOC, que podem ser sensíveis a diferentes tipos de tratamento e prevenção primária ou secundária que ainda não foram adequadamente explorados.
Referência:
DOI: 10.1164/rccm.202204-0671PP
Dr Marcos Staak Jr
Médico – CRM/SC 17642
@pedrotoledo.med
