A creatinina é um dos exames mais solicitados para avaliar a saúde dos rins — mas será que ela é confiável em todos os corpos?
Se o paciente for um atleta com muita massa muscular (ou, ao contrário, alguém com sarcopenia), a resposta é: nem sempre.

Creatinina e função renal: o que estamos realmente medindo?
A creatinina é um subproduto da conversão da fosfocreatina, principal fonte de energia para o tecido muscular esquelético e cardíaco.
Ela é:
- Pequena (113 Da)
- Solúvel em água
- Não ligada a proteínas
- Filtrada livremente pelo glomérulo renal
Essas características a tornaram o principal marcador endógeno da taxa de filtração glomerular (TFG), usada para avaliar a função dos rins.
Além disso, é barata, prática e amplamente disponível.
Mas há um problema: a creatinina vem do músculo. E nem todo paciente tem a mesma quantidade de massa muscular.
Quando a creatinina engana (e o rim está bem)
Como a produção de creatinina depende da quantidade de músculo, isso gera distorções na estimativa da TFG:
Homens jovens e musculosos
- Alta creatinina sérica
- Pode simular disfunção renal — mesmo com TFG normal
Mulheres frágeis ou sarcopênicas
- Baixa creatinina sérica
- Pode mascarar doença renal crônica (DRC) já presente
A fórmula CKD-EPI, usada nas diretrizes KDIGO, não consegue corrigir completamente essa variabilidade.
E o peso corporal? Ele ajuda?
Algumas fórmulas tentam considerar o peso como variável indireta da massa muscular. No entanto:
- Obesos têm peso elevado, mas não produzem mais creatinina
- Atletas têm mais músculo e produzem mais creatinina, mesmo com peso “normal”
Ou seja, peso não é um bom substituto da massa muscular.
Soluções mais precisas para casos específicos
1. DEXA (Raio-X de Dupla Energia)
- Avalia a composição corporal real (músculo, gordura, osso)
- Útil para interpretar melhor a creatinina em casos extremos
- Baixo custo e boa acessibilidade
2. Cistatina C
- Marcador de filtração que não depende de massa muscular, sexo ou idade
- Mais preciso em pacientes com alterações corporais extremas
- Desvantagem: custo mais alto e acesso limitado
Conclusão: creatinina é útil, mas requer interpretação crítica
A creatinina continua sendo o exame padrão para função renal, conforme as diretrizes KDIGO.
No entanto, não deve ser interpretada de forma isolada, especialmente em:
- Atletas ou praticantes de musculação
- Idosos com sarcopenia
- Pacientes com grandes variações corporais
O médico deve individualizar a análise, considerar a composição corporal e, quando necessário, utilizar ferramentas como DEXA ou Cistatina C para complementar a avaliação.
Avaliar os rins vai além de olhar um número.
Se você treina, tem muita massa muscular ou perdeu peso recentemente, sua creatinina pode não contar toda a história.
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Referências científicas: