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Massa muscular influencia na análise da função renal?

Na medicina, a creatinina é bastante utilizada para a estimativa da Taxa de Filtração Glomerular(TFG), informação essencial para analisar a função renal. A creatinina é o subproduto orgânico nitrogenado da conversão não enzimática da fosfocreatina (a principal fonte de energia das células musculares esqueléticas e miocárdicas para contração).

A concentração de creatinina sérica reflete o equilíbrio da massa muscular do indivíduo e consumo na dieta versus a excreção renal.

Como a creatinina é pequena (113 Da), solúvel em água, não ligada a proteínas e filtrada livremente pelo glomérulo sem reabsorção tubular significativa (com 10-15% de excreção nos rins), é o principal indicador endógeno da taxa de filtração glomerular (TFG) usado na prática clínica.

A creatinina é muito utilizada devido ser conveniente, barata e amplamente disponível. Mas será que dá para confiar na creatinina em todos os contextos?

DEVIDO A CREATININA SER UM METABÓLITO MUSCULAR, SUA PRODUÇÃO VARIA COM A QUANTIDADE DE MASSA MUSCULAR QUE UM INDIVÍDUO POSSUI.

Portanto, pode haver subestimação ou superestimação das TFG em algumas situações como, por exemplo: subestimação da TFG em homens jovens musculosos (aumento da creatinina, sem diminuição da TFG) ou superestimação em mulheres frágeis e sarcopênicas (creatinina baixa mesmo com DRC estabelecida).

Os estudos mostram que grandes variações de massa muscular acabam comprometendo as análises da TFG calculada pelas fórmulas convencionais como a CKD-EPI, por exemplo.

Como a creatinina sérica está intimamente associada à função renal, a contribuição muscular é facilmente ignorada em alguns casos.

Assim é importante saber que o peso pode ser utilizado em algumas fórmulas tentando estimar a massa muscular e seu impacto nos níveis de creatinina, no entanto indivíduos obesos possuem peso elevado, mas NÃO possuem aumento da produção de creatinina, bem como atletas com grandes quantidades de massa muscular possuem incremento elevado na produção de creatinina, por exemplo.

Portanto, uma alternativa para medidas mais fidedignas da TFG nesses contextos, seria o raio-x de dupla energia (DEXA) para avaliar a composição corporal, exame que originalmente é utilizado no diagnóstico da osteopenia/osteoporose, e que possui baixo custo e resultados confiáveis, bem empregado nos estudos.

Outra alternativa seria a mensuração da Cistatina C que é um marcador de filtração endógeno que independe da massa muscular, sexo, dieta e idade. No entanto, com custo mais elevado e acesso menos amplo que a creatinina. As diretrizes do KDIGO recomendam a CKD-EPI, fórmula que utiliza a creatinina como marcador da função renal, portanto esta ainda permanece com grande utilidade na prática clínica.

Entretanto, o médico deve estar atento quanto a sua aplicabilidade e individualizar os achados, atento quanto à massa muscular do indivíduo, priorizando sempre uma análise crítica e aplicabilidade no contexto clínico em que o paciente se encontra.

 

Referências:

doi:
10.1016/j.eclinm.2020.100662
10.1038/s41581-018-0080-9

Dr Marcos Staak Jr
Médico – CRM/SC 17642

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