As células de Leydig, descobertas em meados de 1850 pelo Franz Leydig, são um grupo de células intersticiais localizadas nas gônadas (testículos e ovários). Elas são as principais células produtoras de Testosterona e Dihidrotestosterona (DHT), que são hormônios sexuais andrógenos (natureza masculina).
Os quais são importantes determinantes da expressão do fenótipo masculino, incluindo o desenvolvimento das características sexuais secundárias, assim como a iniciação e manutenção da espermatogênese. A testosterona é secretada primariamente pelas células de Leydig dos testículos e ovários, mas as glândulas adrenais também podem secreta-la em menor quantidade.
Sabemos que essa produção hormonal pode ser alterada pelo uso de Esteróides Anabolizantes Androgênicos (EAAs), mas apesar disso, nós ainda temos uma certa falta de para conhecimento sobre os efeitos dos EAAs na síntese dos hormônios esteróides a nível molecular.
Mesmo com os estudos em humanos utilizando tais drogas sendo dificultados por serem ilícitas para o uso não terapêutico, muitas das alterações induzidas por EAAs são analisadas com base em estudos em animais, que podem servir de modelo para esse fim. Assim podemos saber as consequências, no curto e longo prazo, de elementos específicos da esteroidogênese nas células de Leydig.
E considerando o crescente uso dos EAAs pelos adolescentes, que historicamente tinha seu uso indevido era restrito basicamente à atletas de elite, estimativas europeias recentes indicam esse aumento no consumo recreativo para fins estéticos e classificam os danos relativos de EAAs nesses jovens em uma seleção de 19 drogas ilícitas, como heroína, cocaína, ecstasy e cannabis.
Os riscos à saúde pelo uso não terapêutico dos EAAs são considerados altos para muitas pessoas, e incluem: diminuição da produção de esperma; atrofia testicular; ginecomastia; aumento da chance de ataques cardíacos; mudanças de humor; câncer de fígado; parada prematura do crescimento ósseo em homens mais jovens, etc.
Então, foi questionado o seguinte: Quais são os efeitos das altas doses de testosterona exógena nos mecanismos de esteroidogênese nas células de Leydig?
A produção de testosterona nas células de Leydig envolve variados processos moleculares que acontecem dentro da célula. Tudo começa com com a absorção seletiva de colesterol extracelular pelos receptores scavenger na membrana da célula, o transporte do colesterol intracelular para a mitocôndria é um dos processos limitantes na produção do hormônio, tal procedimento requer um complexo de proteínas carreadoras. O colesterol então é convertido em pregnenolona, a pregnenolona convertida em progesterona através da enzima 3ßHSD, só então a progesterona é maturada em androstenendiona e posteriormente convertida em testosterona pela enzima 17ßHSD.
A esteroidogênese nas células de Leydig pode ser predominantemente regulada pelos hormônios LH ou HCG, a estimulação de seus receptores na célula ativam uma cascata de AMP cíclico que dá início a todos os processos citados acima. Foram conduzidos estudos em ratos com uso de Enantato de testosterona aplicados durante 2 semanas e 2 meses em 3 grupos de ratos diferentes, sendo 2 deles o grupo de 2 meses, porém com doses diferentes. O estudo foi realizado para se entender melhor o que acontece a nível molecular dentro das células de Leydig com o uso prolongado de Esteróides Anabolizantes Androgênicos (EAAs).
No estudo, após o período de utilização de EAA, as células foram estimuladas com HCG para que pudesse se entender como estaria o maquinário intracelular. No grupo de 2 semanas houve decréscimo na produção de andrógenos, porém a produção de progesterona permaneceu intacta, refletindo aumento dose dependente da enzima 3ßHSD, visto que no grupo de 2 meses em doses altas a produção de progesterona aumentou. Tanto a maturação da progesterona quanto a conversão de androstenendiona para testosterona caíram, a atividade da enzima 17ßHSD teve decréscimo também dose-dependente.
O tratamento com testosterona também afetou a capacidade de produção de AMP cíclico nas células de Leydig, limitando o início de toda a ativação do maquinário celular estimulado pelo LH ou HCG. A enzima responsável pela produção de estrogênio teve atividade diminuída com o grupo de 2 semanas de uso, porém, atividade aumentada no grupo de 2 meses de uso e, ainda mais aumentada no grupo de 2 meses que recebera doses maiores, comprovando que o colateral da aromatização é dose dependente.
Além disso, os transportadores de colesterol intracelulares citados no início da parte 02 também se encontraram diminuídos em ambos os grupos. O paradoxo está no fato de que o tratamento com testosterona causou uma up regulation nos receptores androgênicos tanto nas células de Leydig quanto em outras células como as do músculo esquelético.
Esse aumento dos receptores androgênicos pode ser explicado como uma tentativa de compensação da célula, já que está com o maquinário intracelular prejudicado. Nad células de Leydig, apesar da quantidade dos receptores aumentarem, sua atividade se encontra prejudicada, pelo aumento dos níveis intracelulares de uma enzima que degrada o AMP cíclico e limita o início da cascata molecular de ativações.
Apesar de complexo, o estudo nos escancara fatos já conhecidos e de certa forma simples. 1º – Muitos dos colaterais são dose dependentes, quanto maior a dose, maior a chance dos mesmos acontecerem; 2º – Além de o uso de testosterona exógena desregular o eixo hormonal hipotálamo-hipófise-gônadas que já possui um lento retorno, ainda desregula todo o maquinário intracelular envolvido na produção do hormônio. Olha quanta coisa para arrumar!
Não há uso de EAAs sem potenciais colaterais ou certos danos, com os conhecimentos corretos, um médico especializado pode minimizar os danos e os colaterais e auxiliar e estimular um retorno mais rápido e mais eficiente do eixo e do maquinário celular das células de Leydig. Já se convenceu a buscar acompanhamento médico para seu “ciclo” agora?
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