O uso de anticoncepcional oral (ACOs) como método contraceptivo ou mesmo com intuito de controlar ou tratar patologias é algo extremamente comum no público feminino. Essa realidade não é diferente em atletas, sendo que em uma auditoria realizada em 2018 com 430 atletas de elite foi constatado que 49% dessas mulheres utilizavam um método anticoncepcional hormonal.
Associado a isso, sabemos que o ciclo hormonal feminino fisiológico é marcado por variações hormonais constantes, gerando picos e vales de progesterona e estrogênio ao longo dos dias. Estudos sugerem que essa variação hormonal seja capaz de gerar discretas alterações no desempenho de atletas, como por exemplo, diminuição desempenho aeróbico durante a fase lútea tardia e do desempenho anaeróbico na fase folicular tardia.Por outro lado, em mulheres que utilizam anticoncepcional oral, esses picos e vales hormonais fisiológicos são inibidos através de um feedback negativo realizado pela medicação.
Diante dessa alteração hormonal surge a questão, o uso de anticoncepcional seria capaz de interferir no desempenho dessas atletas?
Para responder essa pergunta Kirsty e colaboradores em sua metanálise avaliaram 42 estudos diferentes, com intuito de entender se as alterações hormonais geradas pela pílula seriam capazes de beneficiar ou prejudicar as atletas estudadas. A partir disso foi avaliada a correlação entre performance esportiva e o uso de anticoncepcional oral combinado, ou seja, aqueles contendo Etinilestradiol associado a algum progestógeno como levonorgestrel, ciproterona ou drospirenona por exemplo.
O grupo de pesquisadores encontrou de um modo geral que a utilização do anticoncepcional hormonal age de forma negativa na performance esportiva. Acredita-se que isso se deva ao fato do uso de ACO suprimirem a produção endógena dos hormônios femininos, fazendo com que as concentrações de estradiol e progesterona endógenos se encontrem significativamente diminuídos quando comparadas com os níveis fisiológicos.
Vale ressaltar que essas alterações de performance foram extremamente sutis, fazendo com que as implicações na realidade sejam tão pequenas a ponto de serem triviais e, portanto, não significativas para a maioria da população. Por outro lado, o uso de ACOs foi capaz de gerar um aumento substancial no desempenho esportivo de mulheres que sofriam de dismenorreia e hiper fluxo menstrual.
Uma vez que inibindo a menstruação dessas mulheres com a utilização de anticoncepcional contínuo, o quadro clínico de dor e os desconfortos gerados pela menstruação foram solucionados, proporcionando melhora na performance. Diante disso, podemos concluir que o uso de ACOs pode ser capaz de interferir na performance esportiva, entretanto, pensando em nível populacional, essa alteração é tão sutil que passaria despercebido na maioria das mulheres. Por outro lado, em situações em que há a indicação clínica da medicação, o desempenho poderia ser inclusive aumentado.
Sendo assim, mulheres que desejam alcançar uma alta performance devem realizar uma escolha pelo método a partir de uma avaliação conjunta com seu médico de confiança a fim de discutirem os riscos e benefícios da medicação.
Texto em parceria com Guilherme Adami.
Referências:
doi: 10.1007/s40279-020-01317-5.
doi: 10.3390/ijerph18041667