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The Game Changers (or not)

A manipulação de dados científicos é corriqueira atualmente. Existem estudos com comprovam tudo e qualquer coisa. Quem quer utilizar esse tipo de informação e se dizer “embasado cientificamente” consegue, e com facilidade. Porém as revistas científicas nem sempre são de maior impacto, ou são revistas que estão iniciando e aceitando qualquer estudo para ser publicado e fazer volume. Dessa forma, saber o fator de impacto do periódico em questão é essencial, além de saber analisar a metodologia científica dos estudos pra saber se é condizente com os resultados.

Observamos esse uso de dados “científicos” no documentário em questão – The Game Changers. Nele, há inicialmente a premissa que gladiadores eram “vegetarianos”: na verdade havia um abundante consumo vegetal e de pouca proteína animal. É evidente quando comparamos a facilidade em se obter carne atualmente com a realidade de ~2000 anos atrás. É como daqui há anos as pessoas estudarem a nossa geração e ver que a nossa alimentação, em geral, é feita de alimentos processados e ultraprocessados. Por que isso ocorre? Pela facilidade de obtenção de recursos. Ou alguém aí como só pão feito em casa usando trigo, água, sal e fermentação natural? 

Já é, sim, sabido dos benefícios à saúde como um todo de uma dieta com frutas, legumes, leguminosas e folhas… Vegetais são a imagem de uma alimentação saudável e balanceada, qualquer criança sabe disso. Qualquer população ou pessoa que coma vegetais em quantidades suficientes ou acima disso terá marcadores de saúde melhores, e, porque não, físicos melhores (embora o que se imagina e se representa de físicos de gladiadores não é o que era realmente, uma vez que vários estudos arqueológicos mostram que os gladiadores tinham uma boa quantidade de gordura subcutânea principalmente no tronco).

O documentário desde o começo confunde “consumo de proteína animal” com “fornecimento de energia” para o corpo. Essas 2 coisas não tem, necessariamente, uma relação direta. Os gladiadores tinham bastante energia, ninguém duvida disso visto suas atividades; e sua composição corporal continha mais depósitos de gordura – energia de reserva. Sem problemas. Mas não tem motivo pra linkar o não consumo de carne com falta de energia. E, independente do esporte, quando se parte para o alto rendimento, independente da estratégia alimentar adotada pelo praticante/atleta, o suporte por trás é gigantesco, e não poderia nem deveria ser comparado com atletas amadores que sequer vivem do esporte. É igual comparar o desempenho de um carro de fórmula 1 com o de um Gol bolinha de corrida de rally regional e querer dizer que a diferença de desempenho deles é por causa da gasolina que eles utilizam.

Ainda no documentário, há a conexão de “força” como “necessidade de proteína”. E que se os animais que consomem insumos vegetais (vaca comendo pasto, galinha comendo milho), nós também podemos comer “pasto e milho” e construir as proteínas necessárias do nosso organismo da mesma forma. É CLARO!! Nosso organismo, nossa digestão, nossos órgãos, tudo é igual entre seres humanos, vacas, galinhas e porcos. Excelente (contém sarcasmo). E a planta obtém da onde seus nutrientes pra formar os aminoácidos? Do solo e da luz… Então as plantas também atuam apenas como um intermediário, como eles dizem que os animais são. Dessa forma, nós poderíamos nos alimentar de terra e ficar expostos ao sol. Bem melhor.

Os recordes citados de levantamento de peso não são reais: o de Log Lift pertence a Žydrūnas Savickas. E aí James Wilks tenta fazer uma atividade que o levantador de peso TREINA DIARIAMENTE para fazer!! Caralho, tá difícil… Estamos comparando laranjas à linguiças praticamente… Por favor. Qualquer cara, independente da alimentação, não vai levantar cargas que um Strongman utiliza para treinar. INDEPENDENTE DO QUE ELE ESTEJA COMENDO. Isso é resultado de treinamento e da especificidade de treinamento.

Impacto de refeições com carne animal – aumento da gordura circulante! NOOOSSSAAA. É óbvio, ou será que os triglicerídeos da gordura presente na carne animal seria eliminada pelo intestino? Não né. Pois bem. E sobre a disfunção endotelial – isso é muito mais relacionado a processos inflamatórios, que podem ser deflagrados SIM pela alimentação e pelo consumo de carne de animais que comem ração principalmente. Já se sabe da alteração na proporção ômega-3/ômega-6 nesses tipo de carne, e que isso sim causa um aumento do impacto inflamatório da dieta em nosso organismo. Não é pela proteína ser de fonte animal. Por que eles não fazem o mesmo teste comparando quem consome proteína de peixes selvagens ou de gado grass-fed com animais criados em cativeiro e que se alimentam de ração? Pois é…

E, pra mim, o melhor – James Wilks está 6 semanas parado se recuperando de uma lesão. Em períodos de treinamento, ele não consegue fazer 10 minutos de atividade com corda naval na academia. “Surpreendentemente”, após 6 semanas DE DESCANSO de treinos ele vai para a academia e faz 1h… E de quem é o mérito? Da dieta plant based, claro. Não do descanso. Claro que não… Não estou falando que uma dieta plant based não é boa ou não seja saudável, longe disso. Os benefícios sim, existem, principalmente para saúde intestinal e para controle de marcadores inflamatórios. Porém há muitas variáveis de confundimento no documentário. Fatos analisados de forma isolada, como se fosse benefício EXCLUSIVO da dieta, ignorando um background mais amplo.

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