A taxa de filtração glomerular (TFG) pode ser calculada a partir da depuração plasmática (clearence) de algumas substâncias livres. Apesar de a creatinina não ser o marcador ideal da TFG por apresentar certo nível de secreção tubular e influência da idade, peso e gênero, atualmente ainda é o método mais usado para calcular a quantidade de plasma filtrado por minuto nos rins, interpretado como função renal dos pacientes.
A creatinina consiste em um produto da degradação de fosfocreatina no músculo e é produzida em taxas constantes pelo corpo. Por essa razão, quanto maior a massa muscular, maior a taxa de creatinina produzida. Diferentes equações para o cálculo de TFG levam em conta a idade e o peso corporal como fatores de correção, porém, não incluem parâmetros de composição corporal como a quantidade de massa magra. Em decorrência disso, exames laboratoriais de praticantes de atividade física moderada/intensa geralmente apresentam alterações nos níveis séricos de creatinina e na TFG.
Tendo em vista que o peso e, ainda mais, a massa muscular, estão significativamente correlacionados aos níveis séricos de creatinina, outro composto endógeno tem-se mostrado promissor como marcador da filtração glomerular, a cistatina C. A cistatina C é produzida por todas as células nucleadas do corpo em ritmo constante e correlaciona-se melhor com a TFG por não apresentar influência significativa do peso corporal, idade e massa muscular em seus resultados, o fator limitante para seu uso é que poucos laboratórios dispõem da dosagem desse marcador.
Muitos profissionais da saúde não especializados ou não acostumados a acompanhar praticantes de atividade física moderada/intensa, ao se depararem com resultados alterados de creatinina e TFG se espantam e assustam os pacientes. O aumento uso da cistatina C como marcador pode vir a evitar esse tipo de equívoco. Há também outras correlações clínicas/laboratoriais a serem feitas para evidenciar dano renal, apesar do cálculo de TFG alterado, como a microalbuniúria, mas esse assunto renderia outro post completo. Exames laboratoriais são muito mais do que apenas ler referências, sem raciocínio clínico números serão apenas números.
