A verdade por trás dos esteroides do mercado underground

“Mas meu fornecedor é de confiança”: entenda os riscos reais de utilizar anabolizantes obtidos fora dos canais legais e por que a confiança pessoal não substitui controle de qualidade

O uso de esteroides anabólicos androgênicos (EAA) se tornou cada vez mais comum, especialmente entre indivíduos que buscam ganhos estéticos ou de performance de forma acelerada. No entanto, uma parte significativa dessas pessoas utiliza essas substâncias sem prescrição médica e recorre ao chamado mercado underground — acessando produtos via redes sociais, academias ou até indicações de “fornecedores de confiança”.

Mas será que confiar em um nome ou rosto conhecido basta quando se trata da sua saúde?

O que revela a ciência sobre os esteroides do mercado paralelo?

Uma metanálise publicada em 2023 analisou 19 estudos sobre a qualidade dos esteroides comercializados ilegalmente, incluindo 7 realizados no Brasil, totalizando 5.413 amostras.

Os resultados foram alarmantes:

  • 36% das amostras não continham a substância anunciada na embalagem;
  • 37% apresentavam concentrações diferentes da descrita;
  • Ou seja, mais de 73% dos produtos analisados estavam adulterados de alguma forma.

Em outras palavras, a chance de você não saber exatamente o que está injetando ou ingerindo é altíssima.

Diferença entre drogas orais e injetáveis

A adulteração é comum em todos os formatos, mas apresenta níveis ainda mais preocupantes nos esteróides injetáveis:

  • Falsificação em mais da metade das amostras injetáveis;
  • Em esteroides orais, a taxa de adulteração foi de aproximadamente 1 em cada 3 amostras.

No Brasil, a média de falsificação foi de 42%, o que reforça a fragilidade da procedência desses produtos no mercado nacional.

Contaminação: um risco invisível e grave

Além da composição incorreta, há um risco sanitário crítico. Muitos desses produtos são fabricados em “laboratórios” clandestinos, frequentemente sem qualquer controle microbiológico ou condições mínimas de assepsia. Como resultado, é comum que esses esteroides contenham:

  • Bactérias potencialmente patogênicas;
  • Organismos comensais contaminantes;
  • E até metais pesados.

Um estudo do Reino Unido correlacionou a presença de contaminantes em esteroides injetáveis com uma série de casos clínicos de abscessos musculares, muitos deles necessitando de intervenção cirúrgica. A via intramuscular, quando associada à contaminação bacteriana, pode provocar infecções graves e sequelas funcionais.

Conclusão: confiança não substitui evidência, controle e segurança

Adquirir esteroides no mercado paralelo é uma aposta contra a própria saúde. Os dados mostram que a probabilidade de estar consumindo uma substância adulterada ou contaminada é maior do que se imagina — independentemente da “confiança” que se tenha no fornecedor.

Sem prescrição, sem exames, sem controle de qualidade e sem fiscalização, o risco vai muito além da ineficácia. Envolve danos irreversíveis à saúde metabólica, hepática, cardiovascular e imunológica.

Se você chegou até aqui, compartilhe este conteúdo com aquele amigo que ainda acredita que “o fornecedor da academia é de confiança”.

Referências:

  • https://doi.org/10.1186/s12889-022-13734-4
  • DOI: 10.1002/dta.30

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