Entenda o que a literatura científica realmente diz sobre esse termo tão popular entre pacientes e profissionais da saúde
Nos últimos anos, o termo “fadiga adrenal” ganhou popularidade, sendo usado por diversos profissionais para justificar sintomas como cansaço crônico, queda de rendimento físico, baixa imunidade e dificuldade de concentração.
Mas será que essa condição realmente existe? Ou estamos diante de um conceito mal definido e sem respaldo científico?Neste artigo, vamos analisar o que a ciência médica revisada por pares tem a dizer sobre o assunto, com base na maior revisão sistemática já realizada sobre o tema.

O que seria, teoricamente, a fadiga adrenal?
A hipótese da fadiga adrenal parte da ideia de que, após exposição prolongada ao estresse, as glândulas suprarrenais ficariam “esgotadas” e incapazes de produzir cortisol em níveis adequados.
Como resultado, surgiriam sintomas como:
- Fadiga persistente;
- Baixa motivação;
- Insônia;
- Baixa imunidade;
- Dificuldade de concentração.
A teoria não é oficialmente reconhecida pela endocrinologia tradicional — mas é amplamente divulgada por alguns profissionais alternativos.
A revisão sistemática que investigou a existência da fadiga adrenal
Em 2016, os pesquisadores Cadegiani e Kater publicaram uma revisão sistemática rigorosa com o objetivo de responder diretamente a essa pergunta:
Fadiga adrenal existe como condição clínica validada?
O que eles fizeram:
- Analisaram todas as publicações disponíveis até abril de 2016 nas bases PubMed, MEDLINE e Cochrane;
- Buscaram especificamente estudos usando o termo “adrenal fatigue”.
O que encontraram:
- Apenas 10 estudos utilizaram o termo exato;
- Todos os estudos eram descritivos, sem validação de hipóteses;
- Nenhum avaliou adequadamente o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HPA);
- Metodologias inconsistentes, como uso de testes não padronizados de cortisol, foram empregadas;
Conclusões foram baseadas em premissas frágeis e associações não comprovadas.
Conclusão dos autores: fadiga adrenal não é reconhecida
Segundo os autores:
“Não há qualquer evidência científica robusta que comprove a existência da fadiga adrenal como uma entidade clínica independente.”
Diferenças nos níveis de fadiga entre grupos saudáveis e sintomáticos foram observadas, mas sem relação clara e comprovada com disfunções do eixo HPA — o que invalida a premissa da fadiga adrenal como uma condição hormonal.
Então de onde vêm os sintomas?
Os sintomas atribuídos à fadiga adrenal são reais e devem ser investigados com seriedade, mas as causas são multifatoriais, e não necessariamente relacionadas às glândulas adrenais.
Entre os diagnósticos diferenciais possíveis, podemos citar:
- Síndrome da fadiga crônica;
- Distúrbios do sono;
- Transtornos de humor (depressão, ansiedade);
- Síndrome do burnout;
Distúrbios tireoidianos ou metabólicos.
Conclusão: fadiga sim, adrenal não
A fadiga é um sintoma sério — mas “fadiga adrenal” não é um diagnóstico válido segundo a medicina baseada em evidências.
O uso do termo pode desviar o foco de investigações reais e de tratamentos eficazes.✅ Se você sofre com fadiga persistente, o ideal é buscar uma avaliação médica completa, com análise hormonal, metabólica e psicológica.
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Referências: doi: 10.1186/s12902-016-0128-4