Normalmente os níveis de testosterona variam de 3 a 10 ng/mL, com flutuações de 10 a 15% durante o dia. As concentrações mais altas ocorrem no período da manhã e as mais baixas nas primeiras horas de sono. Após os 30 anos, os níveis de testosterona tendem a cair cerca de 1% ao ano.
O hipogonadismo é o quadro decorrente de baixos níveis de testosterona, sua apresentação clínica varia baseada na origem e idade, sendo mais evidente em pacientes jovens, contudo, menos prevalente. Estima-se que cerca de 5% dos homens com menos de 30 anos tenham hipogonadismo. Esse número sobe para 10% entre 30 e 60 anos e aumenta até 50% após os 80 anos.
Etiologicamente é possível dividir o hipogonadismo masculino em:
Hipogonadotrófico: falha na ação ou na secreção das gonadotrofinas. Pode ter causa hipofisária, com diminuição dos hormônios luteinizante (LH) e folículo estimulante (FSH), ou hipotalâmica, com diminuição do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH).
Suas causas podem ser congênitas ou adquiridas. Dentre as congênitas destacam-se,a síndrome de Kallmann e mutações no receptor de GnRH e nas subunidades beta de LH e FSH. Já nas causas adquiridas, mais comuns, lisão ou disfunção pós trauma e hipogonadismo após uso de anabolizantes;
Hipergonadotrófico: gonadotrofinas muito aumentadas em resposta aos baixos níveis de testosterona, nesse caso, o problema está nos testículos. As causas podem ser genéticas; como a síndrome de Klinenfelter, ou adquiridas, como uma lesão cirúrgica;
Hipogonadismo masculino tardio: nesse caso as alterações ocorrem tanto no eixo hipotalâmico-hipofisário quanto nos testículos. Após os 30 anos, os níveis de testosterona caem 1% ao ano. O aumento da globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG), outro acontecimento fisiológico da idade, torna os níveis de testosterona livre ainda menores. O envelhecimento do eixo hipotalâmico-hipofisário faz com que os níveis de LH se elevem muito pouco em resposta à queda de testosterona, podendo ainda continuar na faixa normal.
Quadro Clínico
As manifestações clínicas do hipogonadismo variam de acordo com o período da vida. Alguns sinais podem aparecer durante a diferenciação sexual (hipospadia, criptorquidia, micropênis). Durante a puberdade observam-se sinais como a ausência de sinais de puberdade e a puberdade incompleta. Quando ocorre após a puberdade, nota-se queixas de cansaço, perda de libido e potência sexual, oligo ou azoospermia e perda do fenótipo masculino (queda de pelos, diminuição da massa magra, ginecomastia e atrofia testicular e
prostática).
Tratamento
O tratamento deve ser baseado na causa do hipogonadismo. Em grande parte dos casos a terapia de reposição de testosterona (TRT) é recomendada.
TRT
Indicada para pacientes com sinais e sintomas de hipogonadismo, com objetivo de indução e manutenção de caracteres sexuais secundários, melhora de aspectos sexuais, somáticos e psíquicos. Um consenso entre a Sociedade Europeia de Urologia e a Sociedade Americana de Andrologia recomenda iniciar a reposição com um preparado de curta duração. Formas orais de testosterona são desaconselhadas, devido a maior risco hepático. Dentre as opções disponíveis estão:
Testosterona injetável;
Testosterona transdérmica;
Implantes de testosterona;
Testosterona bucal.
Riscos da TRT
Existem uma série de riscos durante a TRT, responsáveis por constituir as contraindicações do tratamento:
Aumento da próstata;
Crescimento de cânceres de próstata e mama
estabelecidos;
Ginecomastia;
Retenção de flúidos;
Policitemia;
Azoospermia e infertilidade.
São contraindicações a hiperplasia prostática com sinais e sintomas obstrutivos, os cânceres de próstata ou mama atuais ou passados, tromboembolismo venoso atual ou passado e hematócrito basal superior a 51%.
Citrato de clomifeno e metformina, associada a dieta hipocalórica, são aliados interessantes no estímulo da fertilidade, bem como no tratamento de diabéticos.
Texto em parceria com Pedro Calixto.
Referência:
Wajchenberg, B.L. et al. Tratado de Endocrinologia clínica.