Descubra o que a ciência diz sobre os reais efeitos do GH em adultos fisicamente ativos e se seu uso justifica o investimento
O hormônio do crescimento (GH), também conhecido como somatotropina, tem ganhado popularidade no meio esportivo e estético por seu suposto potencial anabólico e lipolítico. Mas apesar da fama, ainda existe uma lacuna importante entre o imaginário popular e o que as evidências científicas mostram sobre seus reais efeitos em adultos saudáveis.
Utilizado amplamente em crianças com distúrbios de crescimento, o GH apresenta efeitos bem definidos nesse público. No entanto, a dúvida persiste: em adultos fisicamente ativos, seu uso é capaz de gerar mudanças significativas na composição corporal ou na performance esportiva?

Metanálise responde: GH realmente funciona?
Para responder essa pergunta, Kasperczyk et al. realizaram uma metanálise sistemática, revisando estudos duplo-cegos, randomizados, que analisaram o efeito do GH isolado em adultos saudáveis. A intenção era mensurar o impacto na composição corporal e na performance atlética.
Parâmetros do estudo:
- População: adultos saudáveis e fisicamente ativos;
- Intervenção: GH administrado em doses entre 6 e 15 UI diárias, durante até 3 meses ininterruptos;
- Comparação: grupo placebo;
Variáveis analisadas: massa muscular, gordura corporal, água extracelular, força e VO₂ máximo.
Resultados sobre composição corporal: há efeito, mas com ressalvas
Os dados demonstraram que, de forma isolada, o uso de GH promoveu alterações modestas, mas estatisticamente significativas na composição corporal:
- +1,62 kg de massa muscular em média;
- +1,77 kg de água extracelular;
- −1,22 kg de gordura corporal em comparação ao placebo.
Esses números confirmam o potencial anabólico e lipolítico do GH, mas também mostram que uma parte do “ganho de peso” é, na verdade, retenção de líquido, o que pode gerar falsas impressões de volume muscular.
E quanto à performance esportiva?
Apesar da melhora na composição corporal, nenhuma diferença significativa foi observada em testes de força ou VO₂ máximo entre os grupos. Isso indica que, isoladamente, o GH não tem efeito mensurável sobre o desempenho físico, o que contraria parte da expectativa em torno de seu uso esportivo.
GH e hormônios androgênicos: sinergia ainda não comprovada
Na prática, o uso de GH entre atletas é frequentemente associado a hormônios androgênicos anabolizantes, como a testosterona. Contudo, a literatura científica carece de estudos que comprovem o efeito combinado dessas substâncias em populações não clínicas.Dados empíricos sugerem uma potencial sinergia, mas essas observações ainda não foram validadas por estudos robustos, o que limita qualquer recomendação baseada em evidência.
O grande limitador: o custo financeiro
Outro fator importante — e muitas vezes negligenciado — é o custo do tratamento. Um protocolo padrão de GH com 10 UI diárias por 3 meses pode ultrapassar R$ 20.000 apenas em medicação, sem considerar exames e acompanhamento médico.
Diante dos ganhos relativamente modestos e da alta previsibilidade de alcançar resultados semelhantes com treino e dieta bem estruturados, a relação custo-benefício do GH se mostra altamente questionável.
Conclusão: GH promove mudanças corporais, mas com limitações claras
A ciência demonstra que o uso de GH pode, sim, modificar levemente a composição corporal em adultos saudáveis, com ganhos de massa magra e redução de gordura. No entanto, grande parte desses ganhos pode ser explicada por retenção hídrica, e não há melhora significativa no desempenho físico.
Além disso, os custos são altos e os riscos do uso indiscriminado, especialmente sem acompanhamento médico, não devem ser ignorados.
Referência científica:
Kasperczyk T, et al. Impact of GH administration on athletic performance in healthy young adults: A systematic review and meta-analysis of placebo-controlled trials. Growth Hormone & IGF Research, 2017. DOI: 10.1016/j.ghir.2017.05.005