O decanoato de nandrolona (ND) é um esteróide anabólico androgênico (EAA) amplamente utilizado para aumentar a massa muscular e melhorar a força física. Embora seus efeitos anabólicos sejam bem documentados, os impactos adversos no sistema nervoso central (SNC) permanecem subestimados e, em alguns casos, controversos. A seguir, exploramos como o uso prolongado desse composto pode afetar o SNC e quais os riscos associados.
Alterações neuroquímicas no cérebro
Estudos recentes sugerem que o uso prolongado de nandrolona pode afetar diretamente a neuroquímica cerebral, modulando a ação de neurotransmissores essenciais como serotonina, dopamina e GABA. Pesquisas indicam que o uso contínuo de nandrolona pode reduzir os níveis de serotonina, particularmente no hipocampo e no córtex pré-frontal, áreas fundamentais para o controle do humor e a regulação emocional. Tais alterações podem contribuir para o desenvolvimento de sintomas depressivos e problemas cognitivos, afetando significativamente a saúde mental dos usuários.
Comportamento e saúde mental
A exposição prolongada à nandrolona está associada a mudanças comportamentais substanciais. Modelos animais de estudo demonstraram um aumento significativo na agressividade e um agravamento dos comportamentos relacionados à ansiedade, ambos atribuídos à diminuição dos níveis de serotonina no hipocampo. Além disso, observou-se uma redução acentuada na resposta motivacional, relacionada à diminuição da dopamina no estriado, uma área do cérebro que afeta diretamente o sistema de recompensa. Essas alterações são compatíveis com sintomas de anedonia, apatia e depressão, comumente observados em usuários crônicos de esteróides anabólicos.
Comprometimento cognitivo: aprendizado e memória
A nandrolona também tem um impacto significativo na capacidade de aprendizado e memória. Estudos em animais mostraram que o uso prolongado desse esteróide interfere na plasticidade sináptica, um processo essencial para a formação de novas conexões neurais. Como resultado, houve comprometimento das funções de memória de trabalho e espacial, sugerindo danos à capacidade cognitiva geral. Isso pode ter implicações sérias para a qualidade de vida dos usuários de esteróides, afetando a execução de tarefas cotidianas que exigem raciocínio e lembrança.
Sistema de recompensa e risco de dependência
Além de afetar o humor e as funções cognitivas, o uso de nandrolona também impacta o sistema de recompensa do cérebro. A substância altera a função dopaminérgica, que está diretamente relacionada à motivação e ao prazer. Essas modificações podem aumentar o risco de dependência, não apenas da nandrolona, mas também de outras substâncias que ativam o sistema de dopamina de maneira semelhante. O aumento do risco de dependência e os efeitos de prazer temporário podem levar os usuários a um ciclo de abuso de substâncias, dificultando a cessação do uso.
Eixo HHA e resposta ao estresse
Outro aspecto importante do impacto da nandrolona no SNC é sua influência sobre o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA), que regula hormônios cruciais como a corticosterona, ACTH e CRH. Estudos com ratos mostraram que a administração subcrônica de nandrolona durante 14 dias resultou na diminuição dos níveis plasmáticos de corticosterona e ACTH. Esses efeitos indicam que o uso prolongado de nandrolona pode alterar a resposta ao estresse, potencialmente contribuindo para disfunções endócrinas e o desenvolvimento de distúrbios depressivos.
Efeitos duradouros e riscos neurológicos
A exposição prolongada a doses supra terapêuticas de nandrolona resulta em alterações neurofisiológicas duradouras. Alterações nas vias GABAérgicas e dopaminérgicas são implicadas, o que pode resultar em um quadro crônico de disfunções comportamentais e cognitivas. Esses achados sugerem um risco elevado de danos neurológicos irreversíveis, destacando a importância de um acompanhamento clínico personalizado para usuários de nandrolona. A monitorização contínua e a avaliação dos efeitos a longo prazo são cruciais para mitigar os riscos à saúde mental e neurológica dos indivíduos.
Impactos permanentes
O uso prolongado de decanoato de nandrolona tem um impacto profundo e complexo no sistema nervoso central, afetando desde a neuroquímica cerebral até o comportamento e as funções cognitivas. As alterações no sistema de recompensa, nos níveis de neurotransmissores e na resposta ao estresse podem levar a uma série de problemas, incluindo distúrbios emocionais, dificuldades cognitivas e risco de dependência. Dado o potencial para danos duradouros, é essencial que os usuários de nandrolona sejam monitorados de perto por profissionais de saúde para minimizar os riscos e garantir uma abordagem terapêutica adequada para cada organismo.
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DOI: 10.2174/1570159X13666141210225822