Redesignação de gênero! A terapia de reposição hormonal é um importante aliado no processo de transição de gênero, permitindo que as pessoas se aproximem da sua identidade de forma mais confortável e autêntica.
A nomenclatura que designa o espectro de identidades de gênero sofreu diversas mudanças ao longo dos anos, de modo a reduzir o preconceito desta condição clínica. A Associação Americana de Psiquiatria utilizava, no DMS-III, a expressão transtorno de identidade de gênero do tipo transexual. Atualmente, no DMS-V, a denominação utilizada é disforia de gênero, que caracteriza uma discrepância entre o sexo biológico e o gênero como o qual a pessoa se identifica.
Hoje existem opções de tratamento para redesignação sexual, que visam modificar a aparência física do paciente conforme sua identidade de gênero. Pessoas trans podem se utilizar de terapias hormonais e cirurgia para essa finalidade. A prevalência global de transexualidade com disforia de gênero é de 4,6 a cada 100 mil pessoas, sendo maior para mulheres trans.
O objetivo da terapia é reduzir o nível de hormônio endógeno original e elevar o nível de hormônio relativo ao gênero desejado, induzindo o aparecimento de caracteres sexuais secundários desse gênero e suprimindo características do sexo biológico. Existem uma série de etapas antes do início do tratamento que visam, tanto evitar complicações, quanto resguardar o médico responsável.
O primeiro passo da terapia é a conscientização do paciente quanto aos efeitos dos hormônios, seguido de uma avaliação psiquiátrica quanto à pertinência de se utilizar uma terapia hormonal. A anamnese é outro ponto muito importante desse procedimento, devendo-se investigar sentimentos e expectativas do paciente quanto ao seu gênero.
Em seguida, no exame físico é importante avaliar:
– Altura e peso, já que obesidade caracteriza risco para terapias hormonais;
– Sinais vitais;
– Medida da circunferência abdominal, quadril e tórax, para acompanhar a evolução do contorno corporal;
– Avaliação do abdome, buscando visceromegalias ou sintomas de doenças hepáticas;
– Avaliação de membros inferiores, de modo a excluir
sinais de insuficiência venosa;
– Avaliação de órgãos genitais e mama, para descartar
distúrbios de diferenciação sexual.
Os exames complementares devem conter:
– Hemograma;
– Hepatograma;
– Uréia;
– Creatinina;
– Glicemia de jejum;
– Lipidograma;
– Hormônios do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal
(HHG);
– Sorologia de hepatites A, B e C.
É fundamental avaliar condições médicas preexistentes que possam piorar com a alteração de perfil hormonal. Em mulheres trans é necessário se atentar ao risco aumentado de tromboembolismo, macroprolactinomas, câncer de mama, doenças vasculares, colelitíase e hipertrigliceridemia.
O Tratamento
Após todas essas avaliações é possível dar início à terapia. O tratamento da mulher trans normalmente é mais complexo que o do homem trans. Seu objetivo é reduzir efeitos da testosterona, como pelos e pele espessos, e repor hormônios característicos femininos, alcançando suas características sexuais secundárias (crescimento de mamas e alargamento do quadril). Esse tratamento tende a causar redução de massa magra, redução do número de ereções e atrofia testicular e prostática.
Normalmente, apenas a administração de estrogênios não é suficiente para suprimir os níveis de testosterona, associando-se a reposição hormonal a componentes progestínicos com ação antiandrogênica (ciproterona), espironolactona e agonistas do GnRH.
Os efeitos de feminização começam a ser notados após três meses de terapia e atingem seu pico de eficácia em 24 meses, os níveis séricos de estradiol e testosterona devem ser mantidos no intervalo normal de valores da fase folicular do ciclo menstrual.
Referência:
Endocrinologia Feminina, Alberto k. Arbex / Endocrine Intervention for Transsexuals, Levy A
Dr Marcos Staak Jr
Médico – CRM/SC 17642