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É possível tratar o hipogonadismo masculino sem usar testosterona?

Hipogonadismo masculino é uma doença extremamente comum, caracterizada pela apresentação de níveis baixos de testosterona em homens, acompanhada de sintomas como disfunção erétil, diminuição da força e massa muscular, fadiga, sonolência etc. Essa situação pode acometer homens de todas as idades, entretanto, percebe-se um aumento de sua incidência com o envelhecimento.

As causas de hipogonadismo são divididas em dois grupos: Causas primárias e secundárias. As causas primárias se caracterizam por um quadro em que o déficit de testosterona é oriundo de um problema intrínseco do testículo, onde apesar de existirem níveis adequados (e inclusive altos) de LH e FSH, a glândula masculina não é capaz de produzir testosterona em níveis adequados.

Já as causas secundárias, se caracterizam por patologias diversas que cursam com supressão do estímulo hipofisário de LH, causando com isso uma diminuição da produção de testosterona. O tratamento do hipogonadismo rotineiramente é realizado com testosterona, onde repomos de forma exógena o hormônio faltante, tratando os sintomas já descritos.

Entretanto, a utilização de testosterona exógena, mesmo em níveis terapêuticos, gera inibição do eixo hipotálamo hipófise, diminuindo os níveis de LH e FSH, causando por consequência a diminuição da produção endógena de testosterona e diminuição da fertilidade.

Sabendo desse problema, vários estudos vêm sendo realizados a fim de encontrar drogas que auxiliem no tratamento do hipogonadismo masculino, sem com isso gerar diminuição da fertilidade. Entre essas opções terapêuticas, vem sendo estudado principalmente a utilização de HCG e os moduladores seletivos dos receptores de androgênio e estrogênio (SARMS e os SERMS).

Dentre essas medicações uma que vem ganhando destaque é o Citrato de Clomifeno (CC), um SERM que atua estimulando a liberação de gonadotrofinas (LH e FSH) e com isso aumentando a testosterona. Mas será mesmo que o Clomifeno é capaz de substituir o uso da testosterona?

Para responder essa pergunta quero te apresentar uma meta-análise publicada esse ano, a qual avaliou uma série de estudos de pacientes hipogonádicos em uso de CC, comparando sua eficácia em relação ao uso de testosterona.

Avaliando mais de 1600 pacientes, a revisão nos mostra que houve um aumento da testosterona nos homens em que utilizaram essa medicação, sendo que esse aumento de testosterona foi equivalente ao uso de testosterona em gel e menor que testosterona injetável.

Além disso, foi identificado que homens jovens, com nível de LH baixo e volume testicular preservado, foram aqueles que tiveram uma melhor resposta à medicação. Vale ressaltar que esse achado sugere que o uso de clomifeno é mais eficaz em homens com hipogonadismo secundário, causado pela obesidade, por exemplo.

Por fim, foram identificados baixos níveis de efeitos colaterais. Os principais achados foram casos de mudanças comportamentais, borramento da visão, aumento da sensibilidade mamária, ganho de peso e dor de cabeça. Vale ressaltar que apenas um paciente apresentou aumento de hematócrito não necessitando de flebotomia.

A partir disso, conclui-se que o tratamento do hipogonadismo pode ser realizado com outras medicações além da testosterona, se destacando o Clomifeno. Vale ressaltar, entretanto, que essa medicação não é a primeira escolha terapêutica, podendo ser considerada especialmente em homens jovens possuam um causa secundária de hipogonadismo e que desejam manter sua fertilidade.

Texto em parceria com Guilherme Alfonso Vieira Adami.

Referência:

DOI: 10.1111/andr.13146

Dr Marcos Staak Jr
Médico – CRM/SC 17642

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